Presságio

[rating:3]

Uma cápsula do tempo contendo desenhos dos alunos sobre o futuro, lacrada desde 1959 no jardim de uma escola primária em Massachussets (EUA), é desenterrada 50 anos depois. Cada envelope contendo os desenhos dos antigos alunos é entregue a uma nova criança. O material que cabe ao pequeno Caleb (Chandler Canterbury), contudo, é uma bizarra folha de papel repleta de números. Ao examinar o achado exótico, o pai dele, John, (Nicolas Cage), que é professor de Astrofísica, acaba descobrindo um estranho padrão: os números parecem indicar data, local e número exato de mortes de grandes desastres ou acidentes naturais da história da humanidade. A amarelada folhinha também prevê três grandes incidentes para o futuro próximo. O que John deve fazer com essa informação?

O ponto de partida de “Presságio” (Knowing, Austrália, 2009) é até atraente, mas analisada de forma superficial parece indicar apenas mais um blockbuster de verão, um portfólio audiovisual de luxo para que grandes empresas de efeitos especiais (CGI) mostrem que são capazes de dar vida a virtualmente qualquer cenário imaginado por um cineasta, por mais apocalíptico que seja. Esta expectativa é de fato consumada na produção, mas em termos de ressonância emocional o filme vai um pouco além dos épicos de destruição em massa levados a cabo por diretores-artesãos do naipe de Roland Emmerich (“Independence Day”) ou Michael Bay (“Transformers”). Alex Proyas, que já havia demonstrado criatividade visual e habilidade autoral em longas como “Cidade das Sombras” (1998), reafirma esse talento e nos dá um híbrido de sci-fi e disaster movie que, apesar de derrapar feio no final esotérico-melodramático, parece mais interessante que a média das grandes produções contemporâneas.

Para começo de conversa, é importante assinalar a semelhança temática deste filme com o subestimado “Sinais” (2002), de M. Night Shyamalan. Ambos têm como protagonistas homens viúvos, que criam filhos pequenos, e cujas esposas tiveram mortes violentas. Nos dois casos, são famílias isoladas da sociedade por causa desse trauma, e cujos eventos catastróficos forçam seus adultos a reexaminar questões de fé que pareciam superadas, ou adormecidas. Em essência, “Presságio” é um filme sobre a fé. Este conceito aparece no subtexto do filme, entrelaçado com o tema principal, que é expresso pelo professor de Astrofísica na aula que o vemos dar logo no começo da trama: a dicotomia entre caos e ordem, entre determinismo e livre arbítrio. Portanto, um dos temas fundamentais do conhecimento humano (interdisciplinar, já que abordado tanto pelas ciências exatas como pelas humanas) está no alicerce dramático deste filme.

Essa estratégia narrativa – embutir temas sérios dentro da carcaça de um melodrama convencional – é uma das marcas autorais mais importantes do trabalho de Alex Proyas, como demonstrado no citado “Cidade das Sombras” e também no irregular “Eu, Robô” (2004). Outro aspecto que marca a obra do diretor é o talento para a construção visual sofisticada, aqui expresso no conceito estético da fotografia, na excelência dos efeitos digitais e também em um plano-seqüência espetacular que dura três minutos e mostra um desastre de avião e suas conseqüências trágicas de maneira incrivelmente realista, sem cortes. Nesta cena em particular, bem como no filme como um todo, também é preciso assinalar o excelente trabalho do design de som, que constrói o espaço cênico tridimensional de forma enfática, usando todos os recursos do sistema multicanais de forma firme, mas discreta, sem exagerar no volume e na intensidade das explosões.

A seqüência do acidente é uma das chaves para decodificar o carregado simbolismo bíblico do filme (observe que pai e filho, por exemplo, carregam nomes cristãos). Essa simbologia inclui citações visuais a anjos, profetas e – claro – aos sinais gráficos do Apocalipse descritos nas Escrituras. Convém lembrar que a Bíblia cita expressamente o fim do mundo por meio do fogo, e diz que ele será anunciado por quatro cavaleiros. É interessante notar, também, que a fotografia de Simon Duggan utiliza esse simbolismo bíblico na evolução da paleta de cores, que enfatiza os tons amarelados do fogo (mais e mais intensos à medida que a ação dramática progride) para as ações terrenas, e as tonalidades azuladas do céu quando as cenas envolvem os misteriosos seres de sobretudos negros que surgem como aparições para a família (referência a “Asas do Desejo”, talvez, ou à refilmagem “Cidade dos Anjos”, protagonizada pelo próprio Cage).

Demonstrando mais uma vez respeito aos clássicos e conhecimento cinematográfico, Proyas também providencia citações visuais inteligentes e nada óbvias, como o plano do balão amarelo voando durante o prólogo (referência a “M – O Vampiro de Dusseldorf”, obra-prima do expressionismo alemão cujo “Metrópolis” já havia inspirado “Cidade das Sombras”) e a longa tomada com uso de grua, após o acidente no metrô (muito bem filmado, apesar de inferior à cena do avião), que termina com a bandeira americana esvoaçando em primeiro plano, enquanto a câmera mostra uma multidão de gente ensangüentada e empoeirada caminhando entre destroços . Sim, é uma imagem que traz ecos do 11 de setembro de 2001, mas recria detalhadamente um dos planos mais famosos do cinema, retirado de “E o Vento Levou”(1939).

Infelizmente, “Presságio” está longe de ser um grande filme. Um dos problemas está nas interpretações pouco convincentes das crianças, além dos eventuais excessos que comprometem, aqui e ali, o trabalho de Nicolas Cage de modo geral, desde o começo da carreira (as noites de bebedeira lembram “Despedida em Las Vegas”, mas se aqueles gestos dramaticamente excessivos faziam sentido naquele personagem, neste aqui não encaixam de forma alguma). O coquetel de teorias conspiratórias, que incluem até mesmo alienígenas e uma versão ultra-moderna da Arca de Noé, soa tremendamente exagerado e manipulativo. E o terceiro ato ameaça carregar o filme para o pantanal lamacento dos dramalhões, o que acaba se confirmando com um epílogo longo e cansativo.

O DVD é da Universal. Enquadramento original (widescreen anamórfico) e áudio (Dolby Digital 5.1) são tradicionais. Os extras incluem dois featurettes – um sobre as gravações, outro trazendo estudiosos comentando o apocalipse – somam 27 minutos. Um comentário em áudio do diretor (sem legendas) completa o pacote.

– Presságio (Knowing, Austrália, 2009)
Direção: Alex Proyas
Elenco: Nicolas Cage, Rose Byrne, Chandler Canterbury, Lara Robinson
Duração: 121 minutos

23 comentários em “Presságio

  1. Agradeço, Adriana, de verdade.

    Sobre o filme de Danny Boyle, tem inegáveis qualidades técnicas mas me passa uma imagem muito carnavalesca/turística/simplista/equivocada da Índia, sem falar nas semelhanças com “Cidade de Deus”.

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  2. Eu acho que o filme acaba se perdendo nas bobagens de seu próprio roteiro. De qualquer maneira, acho que Alex Proyas fez um bom trabalho, especialmente na concepção visual e nas cenas de desastre, que são bem dirigidas e executadas.

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  3. Gostei do filme, achei-o interessante e mais elaborado do que se poderia esperar da proposta contida no trailer.
    Longe de ser uma obra prima, o filme tem os seus momentos.
    Registre-se a cena do avião, o fato de ter sido feita sem cortes e os excelentes efeitos sonoros, praticamente nos leva para o cenário do acontecimento, ficou absurdamente realista.
    De fato, as referências bíblicas pululam, chegando ao ponto de ficar óbvio e exagerado.

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  4. Simplestente sua critica é ridicula e tola. Para quem viu o filme e conhece sobre as teorias e tem a mente aberta consegue entender tudo.
    Os efeitos especiais de audio e video são perfeitos.

    Para você que não deve saber,esse filme possivelmente está embarcando na data profetizada pelos Maias como o fim do mundo (fim do ciclo) que seria 21 de Dezembro de 2012. Vários filmes e seriados estão surgindo com a mesma idéia de fim do mundo por causa dessa data. Basta abrir a mente para perceber.

    Mas o que acontecerá realmente em 2012 tirando as explicações misticas? Caso você esteja acompanhando, semana passada saiu uma matéria falando sobre manchas solares, pois elas não apareceram durante uns 3 dias no Sol( isso é raro), e falou no estudo que as manchas solares vão cada vez mais aumentar a partir de agora e que seu ápice será em 21/12/2012. Outro fato que já foi comprovado é que a Terra, o Sol e o cento do Universo vão se alinhar, então poderá fazer com que o eixo de rotação da Terra mude, causando vários inundações por causa da gravidade.

    E o filme só embarcou nessa de fenomenos biblicos porque juntando as teorias que tem por aí. Praticamente todas falam a mesma coisa. Uns dizem que serão os anjos que virão salvar e o filho do homem, outras dizem que são os extraterrestres. Acho que ele fez uma junção boa sim.

    Basta abrir a mente meu amigo! Você irá enxergar tudo nesse mundo! Um fato que é interessante é o que já falei: Filmes e seriados estão saindo a todo momento sobre fim do mundo. Isso realmente poderá acontecer.

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  5. Vi o filme ontem e achei mto ruim. Misturada danada de assuntos: biblia, ciencia, ets.. misturada danada de generos: terror, drama, ação… até achei que pelo rumo que o filme tava tomando ia ter um romancezinho.. =D

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  6. É muito bom esse diretor, os planos de ação dele são inovadores, acho que se ele pegar um filme de superherói ele se faz! Agora Rodrigo, o que aconteceu com Nicolas Cage, chegou a ser um dos meus atores preferidos, mas ultimamente tem sido muito forçado em seus papéis… espero que ele melhore.

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  7. Gostei mais do que eu pensava.
    Fui assistir esse porque não tinha ingresso pra outro filme,rs.
    Um filme mais ou menos,mas com efeitos visuais bem interessantes.O final não me incomodou,de fato,mas a interpretação do Cage,sim.
    Pra mim a Rose foi a que estava melhor no papel.

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  8. Amigos,
    para quem assistiu “Pressagio” e isso causou-lhes indagações a respeito do Fim dos Dias, peço-lhes que por questão de curiosidade, fé ou até crescimento intelectual, leiam a Bíblia, não se trata de religião e sim do conhecimento da verdade. Acreditem sim em profecias, pois elas estao descritas em toda a Escritura Sagrada que Deus revelou a seus Profetas no decorrer dos tempos, homens tementes e fieis ao único e verdadeiro Salvador Jesus Cristo, que veio habitou entre nós, fez maravilhas e milagres, morreu numa cruz por toda a humanidade, levando sobre si as nossas dores e pecados, nos assegurando a salvação por meio d’Ele, ressucitou e prometeu voltar para buscar a todos os que o aceitarem em espírito e em verdade… (…)

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  9. Editei o comentário da Fabiane porque, além de longuíssimo, o texto evidentemente não tinha nenhuma intenção de comentar o filme, mas sim de fazer propaganda religiosa. Poderia ter excluído totalmente a mensagem – isso aqui não é site de religião – mas preferi manter as primeiras linhas, que resumiam o todo.

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  10. Nossa, tem gente preocupada com o fim do mundo mesmo…mas acho que no campo da realidade, tem coisa muito mais importantes para se preocupar, basta ver os noticiários atuais (hoje não vale, só dá Michael Jackson).
    Bom, vamos ao filme. Curti boa parte dele, bem realizadfo, boas sequencias já comentadas aqui, prende bem atenção. O final porém, sei lá, acho que pelo fato de desconhecer essa parte mística de profecias, não consegui engolir legal, Culpa minha talvez, e não do filme. Mas realmente não me agradou. Acho que o que falta a filmes catástrofes (e este é um bom exemplar) é realmente finalizar com algo impressionante, talvez sem recursos ou salvação fácil. Este Presságio fez isso com a maioria da população. Mas isso aqui não é democracia, ou seja, a maioria não vence. O que quero dizer é que, falta a todos os outros o que faltou neste tbém. A falta de esperança. Posso estar sendo um tanto sombrio, mas ei, é só um filme. Pega leve…hehe
    Valeu. Estou lendo ótimas críticas no site, parabéns.
    Ricardo (www.cinedrops.zip.net)

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  11. Acho que o filme abre bem, prende a atenção com mistério e, no decorrer da estória, com leve suspense também. Eu gostei do filme.

    Sobre a questão de filmes catástrofe, finais sem esperança e etc., realidade/ficção… penso que as pessoas devem pesquisar o mínimo sobre estes temas para julgar o que Presságio e outros filmes abordam.

    Do ponto de vista cinematográfico, concordo que a mistura de correntes foi um ponto negativo.

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  12. Eu achei o filme interessante mais eu só tenho uma dúvida …..
    A Lucinda morreu de tanto escrever números ????
    Isso que eu fikei em dúvida !!!
    Na minha opinião , ela morreu de tanto escrever números !!!!
    Eu ADOREI ESSE FILME !!
    Quem ainda não viu …ç…… Quando ver nunca mais vai tirar o olho do filme !!!!!

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  13. Bom acabei de asistir o filme e o achei interessante, mas ficaram algumas dúvidas. Queria saber se minha interpretação está correta.

    1. O que seriam essas pedras pretas que aparecem no filme e no final aparece milhares delas: “Seria talvez que cada pedra significasse um escolhido?”

    2. Por que que quando as crianças partem na nave, cada uma parte com um coelho, e por que coelho? Seria talvez que quando eles estão no espaço junto com várias outras naves, cada nave levaria um casal humano junto com um casal de animais?

    3. Na última cena quando as crianças são deixadas neste novo planeta, outras naves estão por perto aterrizando e ou subindo vôo. Seria talvez que cada nave esta deixando um casal humano de cada país existente no planeta Terra, para ter a interassão entre idiomas e um casal de animais?

    Desde já agradeço a opnião dos colegas.

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  14. Oi para todos eu vi o filme e gostei muito de tudo e feitos sons historia e gostaria de falar para minha concepção todos nos já estamos mortos isso mesmo viram no final do filme todos mesmo sabendo que morreriam continuavam querendo bens materiais, posso esta errado, mas nos já somos alienígenas e estamos inconstantes mutação e só ate breve e bom final de planeta pra vocês. Abraço Erick RC

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  15. Não, o melodrama não depende de quem vê. Trata-se de uma estética secular e que obedece a certas regras narrativas. De todo modo, minha crítica não está no uso desta forma em si (que muitos interpretam como inferior, mas não é), mas na excerbação desta forma em direção ao que chamo de dramalhão – aí sim, uma forma inferior de expressão artística.

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  16. O filme é excelente Ha anjos, e ETS e eles existem. As crianças são lindas e trabalharam bem. Tem que ter a mente aberta pra entender. Pessoas que apenas se ocupam em seus efemeros trabalhos, muitas vezes sem sentido, não entendem. Continuem alienados com esse mundo, infelizmente vão perder a parte de quando a terra passara para a quinta dimensão. Perderão o melhor da festa..

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  17. Realmente o filme passa longe de ser lembrado como referência do gênero ficção-apocalíptico. Nem chega perto do clássico “O dia em que a Terra parou”. Cage “queimou” seu filme nessa trama fraca.

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