Última Missão, A

[rating:3.5]

Embora tenha desfrutado de certa fama durante a fase dourada da geração de jovens diretores chamada Nova Hollywood (1965-75), Hal Ashby terminou caindo em relativo esquecimento, ao contrário de colegas como Martin Scorsese e Robert Altman. Não é difícil perceber o motivo: Ashby dirigiu filmes pouco palatáveis, cheios de humor melancólico e atmosfera atemporal. Foi um cineasta de estilo personalista, não muito chegado a temas sociais, como os contemporâneos. “A Última Missão” (The Last Detail, EUA, 1973) não está entre seus filmes mais conhecidos, apesar de ser talvez o mais engajado de todos os títulos que dirigiu, além de capturar uma ótima performance de Jack Nicholson.

Espécie de road movie satírico, que faz crítica indireta à participação dos Estados Unidos na guerra do Vietnã (a verdadeira pancada é na militarização do país, tema quase que obrigatório entre as produções da época), “A Última Missão” narra uma viagem de três marinheiros pelo território do país. Os dois mais velhos, Buddusky (Nicholson) e Mulhall (Otis Young), têm a missão de conduzir o mais jovem, chamado Meadows (Randy Quaid), à prisão. O rapaz de 18 anos foi julgado e condenado a oito anos de cadeia por tentar roubar 40 dólares da caixa de donativos do quartel.

De saco cheio com a rotina do quartel, os marinheiros mais experientes iniciam a viagem animados pela possibilidade de passar uma semana farreando à custa do Exército. Ainda na primeira etapa da viagem, descobrem que Meadows é um garotão ingênuo, um caipirão simplório, que se colocou sem querer na mira da esposa de um oficial graduado. Simpatizando com ele, decidem retardar ao máximo a chegada a prisão, aproveitando a temporada para iniciar o jovem na arte da farra, o que inclui porres homéricos em bares e quartos de hotéis, brigas e visitas a puteiros.

Como quase todo road movie que se preze, o filme de Ashby é estruturado em uma série de esquetes, conduzidos com leveza insuspeita. Os três atores principais estão ótimos nos respectivos papéis, e o espírito de camaradagem que nasce entre eles gera momentos brilhantes, como o trecho que em, bêbado, Buddusky tenta ensinar a Meadows a linguagem de sinais utilizados por controladores de vôo. A seqüência mais pungente acontece depois que os dois marinheiros mais velhos descobrem que o recruta é virgem, e decidem apresentar o rapaz aos prazeres do sexo. A mais divertida ocorre durante o encontro com um grupo de praticantes de ioga. É humor ingênuo e agridoce de ótima qualidade, que influenciou decisivamente diretores como Wes Anderson (“Os Excêntricos Tenenbaums”).

Curiosamente, “A Última Missão” quase não foi produzido por causa do roteiro original de Robert Towne (“Chinatown”). Repleto de gírias e palavrões nos diálogos, o texto amedrontou os executivos da Columbia, e eles esperaram durante dois anos por modificações que tornassem o conteúdo mais familiar. Towne não mexeu em uma única vírgula, e própria a abertura política e comportamental ocorrida nos EUA se encarregou de pavimentar o caminho para que produções de linguagem mais coloquial, como esta, vissem a luz do dia. “A Última Missão” é inferior aos excelentes “Ensina-me a Viver” (1971) e “Muito Além do Jardim” (1979), os dois grandes filmes de Hal Ashby, mas ainda representa com dignidade a melhor fase da Nova Hollywood.

O DVD da Columbia contém apenas o filme, sem extras. A qualidade de imagem (widescreen 1.85:1 anamórfico) e áudio (Dolby Digital 2.0) é boa.

– A Última Missão (The Last Detail, EUA, 1973)
Direção: Hal Ashby
Elenco: Jack Nicholson, Otis Young, Randy Quaid, Clifton James
Duração: 103 minutos

2 comentários em “Última Missão, A

  1. Não é um grupo de praticantes de ioga, é um grupo praticante do Budismo de Nitiren Daishonin e o que eles estavam recitando é o Nam-Myoho-Rengue-Kyo. época chamava-se Nitiren Shoshu e hoje a organização chama-se Soka Gakkai e está presente em 192 países e territórios. Quer saber mais visite http://www.bsgi.org.br.

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