Busca Implacável

[rating: 3]

Até a década de 1980, mais ou menos, um espectador podia ter uma idéia razoável do filme que iria ver apenas olhando o país que o financiava. Produções francesas tinham certas características que as diferenciavam de italianas, que eram distintas das brasileiras, das argentinas, e assim por diante. Claro que o domínio dos Estados Unidos sobre o imaginário cinematográfico sempre foi grande. Em pleno século XXI, contudo, tornou-se esmagador. Na seara dos filmes de ação, apenas o idioma falado pelos personagens é capaz de indicar, para a platéia, a origem da obra em questão – e olhe lá. “Busca Implacável” (Taken, França, 2008) exemplifica bem esta tese. Tudo no longa-metragem – roteiro, atores, montagem e até mesmo o idioma – cheira a Hollywood, mas a produção carrega a bandeira da França.

Na verdade, o homem por trás de “Busca Implacável” é o mais norte-americanos dos produtores/cineastas franceses. Luc Besson, outrora diretor competente e estiloso (“Subway”), vem há alguns anos investindo muito dinheiro em um estilo de cinema mais comercial. Os filmes que levam as impressões digitais de Besson combinam alguns elementos do cinema europeu – uma trama mais solta, muitos diálogos, personagens um pouco mais desenvolvidos – com narrativas aceleradas. Com “Busca Implacável”, cujo roteiro foi co-escrito por ele, Besson desiste de manter o molho alternativo-europeu e mergulha de cabeça nos filmes de espionagem acelerados. “Busca Implacável” tenta produzir um herói aos moldes de Jason Bourne, o ex-agente secreto que protagonizou os melhores exemplares do gênero desde a grande fase de James Bond, nos idos dos anos 1970.

Bryan (o irlandês Liam Neeson) é o herói, um espião aposentado que destruiu um casamento por causa da excessiva dedicação à profissão. Na tentativa de reparar os erros do passado, ele agora se dedica a fazer pequenos trabalhos temporários como segurança, enquanto busca a reaproximação com a ex-mulher (a holandesa Famke Janssen) e com a filha adolescente (Maggie Grace, de “Lost”). Embora relute, ele permite que a menina embarque para a capital francesa, em uma viagem de férias com uma amiga da mesma idade. Durante a viagem, a moça acaba sendo seqüestrada por uma quadrilha de albaneses que se dedica ao tráfico de mulheres. A partir daí, Bryan precisa reativar as velhas habilidades investigativas para rastrear o paradeiro dos bandidos e impedir a filha de virar escrava sexual de algum milionário.

“Busca Implacável” tem o DNA dos thrillers de ação acelerados que os grandes estúdios norte-americanos produzem aos borbotões. Indo direto ao ponto sem perder tempo, o enredo evita aprofundar os personagens em demasia, fornecendo informações suficientes apenas para que a platéia saiba que Bryan sofre de remorso atávico por ter perdido a infância da filha para o trabalho. A missão de salvamento, para ele, representa uma oportunidade para restabelecer os laços afetivos com a garota. Embora possam parecer lógicas, os roteiristas fogem de diálogos que incluam qualquer coisa parecida com as duas frases anteriores, um subtexto talvez denso demais para uma platéia mais interessada em perseguições de carro, troca de sopapos e golpes impossíveis de artes marciais.

A investigação empreendida por Bryan é cheia de furos de lógica, mas a alta velocidade da narrativa faz que ninguém perceba direito o que está acontecendo na tela. Quer um exemplo? A partir da metade do filme, todos os personagens passam a falar entre si em inglês, embora estejam em Paris. Até mesmo os franceses. Em certa cena, que se passa numa sala cheia de albaneses, eles conversam entre si usando o idioma bretão (a não ser, convenientemente, num momento em que uma expressão em albanês torna-se importante para o avanço da narrativa). Noutro momento, Bryan aparece numa elegante festa da alta sociedade parisiense, onde os franceses conversam entre si em inglês.

O longa-metragem tem pancadaria e correria em fartas doses, e abusa do estilo de edição estroboscópico, tipo “piscou-perdeu”, com só que levado a cabo sem a brutalidade, o realismo e o senso de geografia que fazem a edição dos filmes da série “Bourne” ser o maior referencial para o gênero ação na atualidade. Um ponto positivo é a presença cênica de Liam Neeson, que usa o aprendizado adquirido em papéis coadjuvantes de outros filmes de ação (“Star Wars – A Ameaça Fantasma” e “Batman Begins”) para criar um personagem relativamente verossímil. A escalação de Maggie Grace, por outro lado, bate na trave, pois a atriz é velha demais para o papel, e não convence nem a pau como menina virgem. Ainda assim, a ação curta e direta, a simplicidade do enredo e as emoções envolvidas – acompanhar um pai tentando salvar uma filha é um ato com que todo mundo pode se identificar – garante que a platéia acompanhe tudo com interesse até o final, por mais previsível que ele pareça.

O maior problema de “Busca Implacável”, na verdade, nem está na parte técnica. O longa reforça o retrato preconceituoso e xenófobo que muitas produções contemporâneas fazem das comunidades oriundas do Leste europeu e encravadas nas capitais do Velho Continente. O argumento criado por Luc Besson, por exemplo, bebe da mesma fonte que gerou porcarias como “O Albergue”, de Eli Roth, nas quais transparece a idéia de que qualquer norte-americano que pise fora do país de nascimento sofre perigo potencial de virar saco de pancadas para algum integrante da elite de um povo “inferior”. O produtor e roteirista francês provavelmente nem pensou nisso. Subtexto, afinal de contas, é o tipo de sutileza narrativa para a qual os homens de negócio envolvidos com cinema não dão a menor bola.

O DVD nacional leva o selo da Fox. O filme preserva o aspecto de imagem original (widescreen anamórfico) e traz áudio em seis canais (Dolby Digital 5.1).

– Busca Implacável (Taken, França, 2008)
Direção: Pierre Morel
Elenco: Liam Neeson, Maggie Grace, Famke Janssen, Leland Orser
Duração: 93 minutos

22 comentários em “Busca Implacável

  1. Concordo com o Diego, ninguem vai ao cinema para perceber se os Franceses falam inglês ou não. Eu pelo menos vou para me divertir, e me diverti bastante vendo esse filme, nota 10, muito inteligente, emocionante. Para quem gosta dos filmes em q o personagem é um Jack Bauer da vida ou um Chuck Norris, com muita pancadaria, tiroteio, e gente morrendo, esse filme é demais.

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  2. Concordo com as suas críticas, mas sendo um filme de entertenimento, não há necessidade de uma análise com tanta abrangência envolvendo todos os aspectos que você citou, foi um filme de ação com um baixo teor de suspense, foi um ótimo filme considerando apenas os elementos de entertenimento.

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  3. Não vi o filme ainda mas concordo com o Rodrigo. Não é pq é um filme de ação que ele não deva se ater a detalhes. Isso só faz comque o gênero fique diminuído. Imagine o Hulk novo nas cenas no Brazil(sic) com todo mundo falando inglês incluive os brasileiros da favela. Eu não ia gostar. E esses formas “menores” de preconceito como no caso dos Albanezes são importantes porque é dessas formas inocentes que nossa mente às vezes cria nossos preconceitos de forma até incosciente com o sentido que damos a eleas sem notas muitas vezes. É por esses detalhes que certos gêneros são vistos como “pequenos” muitas vezes. Vou ver se assisto o filme.

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  4. assim…
    pensando por outro lado
    será que o tráfico de mulheres não deve ser considerado?
    será que não existe exatamente como eles mostraram?
    podeiramos procurar outras qualidades nesse filme.. poderiamos pensar que é masi para abrir os olhos da população.. ( claro que não devemos agora ficar trancados em casa) mas pelomenos ódio da pra ter
    está certo que é meio mentiroso em sua ação
    mas faz com que você pense duas vezes nesse assunto
    isso realmente existe e realmente poderia te sido com a filha de qualquer um
    fiquei de cara com o filme
    Preconceito? Existe em todo lugar… é uma merda mas.. todos sentem.

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  5. Igor, faço minhas as palavras do Robson no comentário acima do seu. Os preconceitos surgem e são perpetuados, sem que a gente tenha consciência, exatamente dessa forma que parece ser despretensiosa – vendo um filme bobo, por exemplo. Seria bom se os cineastas tivessem um pouco mais de consciência do papel social dos filmes.

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  6. 😎

    Liam Neeson Rulez

    hahaha

    Esse cara que fez essa análise tá analisando a porra do filme como se fosse um documentário, e não é assim que deve ser feito, o preconceito existe em todo lugar, como já disseram, o cara ta pensando em fazer um filme pra ganhar dinheiro fera, o resto que se foda, o filme tinha que ter um vilão né?

    Vi o filme, achei sensacional, visto como um entreterimento.

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  7. Gostei do filme. Uma produção alucinante, repleta de ação, como já foi dito.
    A mim pareceu destacar o arquétipo do herói (pai) na pele do protagonista, representado pelo Liam que acho um ator muito expressivo.
    Gostei muito da lente apurada do Rodrigo, sobretudo para mim que curto muito cinema, mas não consigo discernir bem os aspectos mais técnicos, tipo: direção, produção, montagem, edição etc.

    RECOMENDO.

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  8. Apesar de ter gostado muito do filme, achei bem interessante a análise feita pelo Rodrigo. A única coisa que eu discordo totalmente é sobre a Maggie Grace. Na minha opinião ela convenceu até demais como uma menina de 17 anos, achei que ficou muito bom mesmo.

    E quanto ao fato do preconceito, acho que o Fausto falou algo certo: O filme tinha que ter um vilão.

    Podia ser francês, brasileiro, ou até mesmo americano, de qualquer jeito seria um preconceito, então acho que o melhor a fazer é ver o filme como uma forma de divertimento e não tentar fazer ligações a triste realidade que nós vivemos

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  9. Esquecível. Igual a muitos outros.
    Serve apenas como entretenimento.
    Me espantou a capacidade do personagem do Liam Neeson, que tem ótima participação, andar sempre desarmado.
    Ele correndo atrás do carro tb foi um tanto patético. Sem necessidade.
    Enfim, um filme despretencioso.

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  10. Putz!! Sabem o que é pior nisso tudo?? É assistir a um filmaço como esse e depois ver alguém se apegando a coisas que somente com um “pente-fino” poderia encontrar defeitos! Achei um dos melhores filmes de ação dos últimos tempos. Me diverti pra caramba com esse filme. Agora falar em preconceito é foda! Como já foi dito, alguém vai ser o vilão. E se por força da história do filme foram os albaneses, que seja! E se fossem os russos, os chineses, os irlandeses… O que for!! Vai saber mesmo se algo semelhante não está ocorrendo… Se de agora em diante o cinema for se preocupar com esse tipo de coisa entraremos numa era de mais profunda monotonia no cinema, onde a história vai ser sempre a mesma, e só se poderá perseguir bandidos que forem da mesma nacionalidade do filme. PÔ!!!! O próprio cinema americano já relatou em vários filmes os problemas dos próprios EUA. Acho sinceramente descabida as críticas. E o filme não é despretensioso! Foi feito com a intenção de ser bom! E conseguiu!! NOTA 10!!!!

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  11. Concordo com tudo o que Rodrigo escreveu. Gostei muito do filme apenas pela atuação de Liam Neeson, espetacular!
    Meus amigos, a função de um crítico é esta. Quem não quiser ler nada desagradável sobre um filme que gostou, é simples: não entre em sites sobre cinema…
    Tenho gostado muito de ler as suas críticas, Rodrigo. Me identifico mais com suas análises do que com as de P. Villaça, outro crítico que costumo ler.
    Grande abraço!

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  12. Cara, o filme é muito bom!

    Ele me faz lembrar um pouco os filmes de ação da década de 80, q não tinham tanta pretensão de serem “geniais” e sim, apenas mostrar a luta do mocinho contra os bandidos. Dessa forma, ele funciona muito bem.

    Claro que gosto de filmes “inteligentes” também e que surpreendem, mas confesso que sinto saudade dos filmes de ação como este.

    Pra quem curte o gênero, recomendo! 😉

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  13. Não gostei! Mas concordo com a idéia de: “pra quem curte o gênero é bom”… eu até gosto se for com inteligência e sequências lógicas… mas este filme não é assim! Além do mais a história é bem simples “pai defedendo família”. Gostei de Rambo e alguns poucos que apesar de serem só pancadaria, me convenceram, sabe-se lá como. Deste não gostei.

    Discordo de “para entretenimento é muito bom”. Não. Como qualquer outro gosto de me entreter, mas, pra mim tem que haver idéias interessantes. Não me entretem este tipo de filme. Prefiro a expressão q coloquei acima “pra quem curte o gênero é bom… ou até muito bom”!

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  14. Um filme razoável com algumas cenas um pouco forçadas, Liam Neeson como sempre faz um bom trabalho, o que me chamou atenção neste filme, apesar de ter um pouco de exagero, é como o mundo do crime cresce a cada minuto. É tráfico de jóias, tráfico de drógas, tráfico de órgãos, tráfico de crianças e de mulheres que cresce absurdamente.
    Todos nós sabemos que não o leste europeu o culpado de todo este tráfico!

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