Saltimbancos Trapalhões, Os

[rating:3.5]

Um musical infantil ambicioso, gravado parcialmente nos estúdios Universal de Los Angeles (EUA), contendo uma sutil e engajada mensagem política que incentivava a luta de classes. Não, uma sinopse deste tipo não parece se encaixar no trabalho de Os Trapalhões, o grupo humorístico mais popular da televisão brasileira. Afinal de contas, eles faziam humor pastelão, de circo, popular e ingênuo, e tomavam muito cuidado para não contaminar as gracinhas com nenhum tipo de ideologia partidária. Pois “Os Saltimbancos Trapalhões” (Brasil, 1981) acabou se transformando no patinho feio do grupo – aquele filme que os fez respeitados pela classe média politizada, outrora hostil à postura apolítica de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias.

Como na fábula infantil, o patinho feio acabaria se transformando num vistoso cisne branco. Além de agraciado com uma das maiores bilheterias do quarteto (5,2 milhões de espectadores, um dos 15 filmes mais assistidos de toda a história do cinema brasileiro), o longa-metragem também marcou época como a produção mais bem-cuidada da trupe, conhecida até então por realizar filmes desleixados, produções vagabundas que não prezavam por histórias com muita lógica e sequer se preocupavam com elementos básicos da gramática do cinema, como a continuidade. Como esquecer a salada de cenários de “As Minas do Rei Salomão”, que misturava uma selva pontuada por rochas com desertos escaldantes numa mesma cena?

“Os Saltimbancos Trapalhões” surgiu, inicialmente, como a maior parte dos trabalhos do grupo para o cinema: uma paródia a uma obra de sucesso. O quarteto buscou inspiração dum espetáculo teatral de 1977, com músicas escritas por Chico Buarque. Além de manter essencialmente a mesma história, os comediantes ganharam um trunfo especial com a participação do próprio compositor, que não apenas cedeu para o filme as canções do musical, mas também presenteou a trupe de humoristas com músicas inéditas, uma das quais acabaria por se tornar um hino infanto-juvenil (“Piruetas”, da qual qualquer brasileiro nascido nos anos 1970 certamente se lembrará).

O enredo se passa em um circo de periferia. Os Trapalhões interpretam quatro desastrados zeladores de animais que se transformam, quase sem querer, na principal atração do espetáculo, embora continuem recebendo salários miseráveis por causa da ganância do Barão (Paulo Fortes), o dono do circo. Eles enfrentam a rivalidade do mágico Assis Satã (Eduardo Conde) e contam com a amizade de Karina (Lucinha Lins), interesse romântico de Didi, para enfrentar os desmandos do empresário. O enredo abre generoso espaço para as deliciosas palhaçadas dos Trapalhões (que caem perfeitamente bem no cenário do circo) e é pontuado por números musicais brilhantes, graças à qualidade superior da música de Chico Buarque. As duas seqüências oníricas filmadas num parque temático da Universal também são ótimas (a piada com as legendas é excelente).

Apesar das virtudes, é bem provável que as crianças do século XXI não simpatizem com a obra. O filme parece lento demais para pequenos espectadores acostumados à velocidade supersônica das tramas dos desenhos animados e videogames contemporâneos, enquanto as gags físicas e repetitivas de Os Trapalhões padecem de uma ingenuidade que simplesmente não existe mais nem mesmo nas crianças, muito mais cínicas do que os pirralhos de antigamente. É provável que filmes como “Os Saltimbancos Trapalhões” estejam destinados a se tornarem artigos de museu, mas sempre existirão por aí alguns adultos nostálgicos da infância – e este é o público-alvo perfeito para este tipo de longa-metragem.

O DVD disponível no Brasil, da Sim Livre, não é grande coisa. A qualidade da imagem (fullscreen, 4:3) é ruim, com arranhões e cores gastas, e o áudio (Dolby Digital 5.1) não parece muito melhor. Há um pequeno clipe de bastidores (5 minutos).

– Os Saltimbancos Trapalhões (Brasil, 1981)
Direção: J.B. Tanko
Elenco: Renato Aragão, Dedé Santana, Mussum, Zacarias
Duração: 88 minutos

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