Mercenários, Os

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Talvez soe como heresia para os mais puristas, mas uma análise rigorosa dos últimos filmes realizados por Sylvester Stallone como diretores permite que comparemos a entrada do principal intérprete de filmes de ação dos anos 1980 na terceira idade com a trajetória realizada por Clint Eastwood, sobretudo a partir de “Os Imperdoáveis” (1991). Depois de encarnar seus dois famosos heróis musculosos acertando as contas com os respectivos passados (em “Rocky Balboa”, de 2006, e “Rambo”, de 2008), Stallone agora parece – e infelizmente só parece, como veremos a seguir – querer ampliar o quadro e fazer o mesmo com toda uma geração de atores bombados, já que “Os Mercenários” (The Expendables, EUA, 2010) consiste, basicamente, de uma reunião nostálgica e cheia de testosterona dos grandes astros de ação de duas ou três décadas atrás.

Em “Os Mercenários”, praticamente todos os atores que se encaixam nessa definição comparecem como coadjuvantes ou fazem participações especiais: Arnold Schwarzenegger, Bruce Willis, Mickey Rourke, Dolph Lundgren, Jet Li e até Jason Statham, que surgiu uma geração depois (feitas as contas, sentimos falta apenas de Jean-Claude Van Damme e Steven Seagal, que recusaram os convites). Todos esses astros de ação compartilham algo mais do que hormônios que incham os músculos: eles interpretaram, ao longo de suas carreiras, incontáveis variações do herói típico dos anos 1980, o machão violento que saía na porrada para defender alguma causa humilde, sempre contra inimigos poderosos, melhor armados e em maior número, vencendo no final uma batalha que parecia perdida de antemão.

A leitura mais interessante que se pode fazer de “Os Mercenários” é metalingüística, no mesmo sentido em que boa parte dos protagonistas do Eastwood pós-anos 1990 dialogam com seus personagens do começo de carreira. No filme de Stallone, cujo roteiro foi co-escrito pelo próprio, os antigos heróis de ação estão reunidos em uma espécie de exército paramilitar de mercenários que trabalha para quem paga mais. Nesse sentido, as lacunas deixadas pelo roteiro são infinitamente mais interessantes do que a ação banal e rotineira mostrada na tela (a tropa, liderada por Stallone, é contratada pela CIA para chacoalhar uma ditadura estabelecida numa pequena ilha da América do Sul e dirigida por um ex-agente que se tornou grande traficante de drogas).

De fato, a ação dramática não passa de desculpa para cenas previsíveis e sem graça de pancadaria, tiroteios, perseguições de carro e avião, tudo com uma estética moderninha (câmera na mão e/ou colada nos rostos dos atores, cortes rápidos, quebras de eixo intencionais, muitos sobressaltos visuais, efeitos sonoros hiper-reais) que pouco ou nada tem a ver com os antigos filmes protagonizados pelos atores que vemos na tela. Todos, aliás, com a expressão cansada de quem deseja terminar logo o trabalho e ir para casa dormir (nos dois sentidos, literal e figurado; ou seja, na frente da câmera e atrás dela também).

Mas isso pouco interessa. Na verdade, interessa a sugestão que o roteiro nos faz quanto ao destino daqueles heróis altruístas e solitários dos anos 1980. Depois de lutar, cada um à sua maneira, por uma sociedade mais justa e correta, onde foram parar os fortões? Na clandestinidade. Na sarjeta. Trabalhando, desiludidos, para quem oferece mais. Sendo um filme produzido dentro de Hollywood (vale a pena ressaltar que Stallone e sua equipe filmaram grande parte do longa-metragem no Brasil, dando calote em todo mundo por aqui, e ainda saíram falando mal do país), claro que o roteiro dá um jeito de oferecer uma última chance de redenção a cada um dos heróis traumatizados, de modo que cada um tenha a oportunidade de acertar as contas com suas próprias consciências. Mas é só isso. Terminado o filme, cada um dos corpos marombados vai voltar para um vidinha de subúrbio, de pária social – e o mesmo acontecerá com cada um dos atores, cujo tempo no estrelato já passou e não volta mais.

Obviamente, a aproximação entre Stallone e Clint Eastwood pára por aqui. Enquanto esse último amadureceu junto com seus personagens, criando uma obra sólida e autoral que problematiza (e, dessa maneira, amplia) os filmes do passado, Sly e seus asseclas pararam no tempo. Suas figuras cansadas nos lembram adultos de mentes adolescentes, velhinhos que insistem em parecer garotões, como se pudessem vencer a passagem do tempo dessa forma. Nesse sentido, a aparência dos filmes nos permite uma metáfora com os próprios atores: por baixo do verniz de novidade (a quantidade avassaladora de close-ups extremos, os sacolejos da imagem, os chicotes laterais, o pum-pam-bum! da trilha sonora) há a mesma e velhíssima história que já era contada nos velhos faroestes de John Ford, George Stevens e Howard Hawks. O que “Os Mercenários” tem de interessante aparece apenas nas entrelinhas. Porque o filme, em si, é mais do mesmo. Nada além.

O DVD tem corte original (widescreen anamórfico) e trilha de áudio Dolby Digital 5.1.

– Os Mercenários (The Expendables, EUA, 2010)
Direção: Sylvester Stallone
Elenco: Sylvester Stallone, Jason Statham, Giselle Itié, Jet Li, Dolph Lundgren
Duração: 103 minutos

27 comentários em “Mercenários, Os

  1. A única estrela que dei for por causa pelo prazer que me trouxe em ver, juntos, atores que marcaram minha adolescência.

    No mais, infelizmente, devo concordar com a análise. Ví o filme em casa e, ao final fiquei feliz em não ter pago um caro ingresso de cinema para ver um filme vazio e cheio somente de clichês.

    Stallone e Eastwood foram simbolos de virilidade em suas respectivas épocas, mas o segundo soube adaptar-se bem às nuances entre seus personagens e sua própria idade.

    Parabéns pela análise que, pelo que lí, renderia uma ou mais aulas.

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  2. Rodrigo existe filmes que exigem mais do critico em relação aos outros? Se a resposta for sim, dá um exemplo. É que a impressão que tive foi que vc gastou apenas 5 minutos para escrever esta, parece tudo tão obvio, tão simples. Outra coisa, em um trecho vc fala sobre o heroi tipico dos anos 80, o machão violento e tal…qual seria o dos anos 90? e o atual?
    Gostei muito desta critica.
    tchau.

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  3. Pergunta traiçoeira, Andrei. Acho que varia de pessoa para pessoa. No caso específico o texto saiu rápido, sim, mas em grande parte porque eu tinha pensado bastante antes no que ia escrever. O processo de escrever foi mais de passar para o papel o que estava pronto na cabeça. Para mim, o mais difícil é falar de um filme genérico, igual a vários outros. Eu sempre tento falar de coisas que destacam o filme do mar de lugares-comuns, mas quando o filme só tem lugar-comum, você fica sem ter exatamente o que dizer.

    Quanto aos heróis… não sei te responder com muita convicção, mas acho que o herói dos anos 1990 para cá é mais falho, mais vulnerável, sofre mais, apanha mais, tem mais dúvidas. É um cara mais comum e nem ele mesmo acredita quando consegue fazer coisas extraordinárias.

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  4. Poxa, e quantas e quantas grandes críticas não foram escritas de modo pra lá de simples?
    Acho que essa crítica obscura, chamada de independente aqui(que, inclusive, gosto), é que dificulta. Até entendo por quê. Lembrando que esse modelo de crítica já caiu, tanto que esse veículo se diluiu em vários que tentam um diálogo maior com o leitor…

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  5. Este filme faz totalmente jus ao cinema de ação dos anos 80, com o qual cresci. A trama é estapafúrdia, as frases de efeito são patéticas e o longa em si é tão ruim que se torna até bom e divertido. Eu ri horrores, particularmente. Só acho melancólico Stallone voltando ao passado para tentar reviver uma glória que já está perdida…

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  6. Aprendi que se não gosto de um filme, um padrão recorrente em mim consiste em começar a elaborar mentalmente a crítica ainda durante a projeção. Foi o caso aqui. Minha mente desviou da trama e de repente eu me peguei pensando nas coisas que acabei escrevendo no texto, isso ainda durante o terceiro ato. Ruim, né? Tudo isso pra dizer que eu não ri nada, Kamila. Infelizmente. 🙂

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  7. No meu caso, quem riu foi o dono do cinema, por ver a cor do meu dinheiro com essa bomba aí.
    Sou fã incondicional do cinema brucutu dos anos 80, fui radiante ao cinema, mas infelizmente esse filme não faz jus ao glorioso passado que alguns ali presentes tiveram. Achei que o filme seria pura diversão, não puro constrangimento.
    Fiquei com vergonha alheia durante toda a projeção, cada vez me surpreendendo com algum novo momento que conseguia superar o anterior em ridicularidade. Triste mesmo, ver os teus heróis de infância acabarem dessa forma.
    Sei que, se talvez eu resolvesse passar as minhas obras preferidas juvenis em revista, que certamente muito do glamour afetivo se dissiparia. Mesmo assim, se é para trazer de volta algo que já passou, que ocorresse com o mínimo de cuidado e zelo. O Stallone viu de novo a conta sair do vermelho com o ótimo Rocky Balboa, e esqueceu o que acabou com a carreira dele: a constante mediocridade do que fazia. E dá-lhe Rambo 4 e essa tranqueira aí.
    Pra mim, o herói dos anos 90 é sempre uma variável do John McClane. Já os de 2000 pra cá, adotou o lado cerebral do Jason Bourne. Fogo é ver os dos 80 tentando se passar como “as grandes novidades” dos anos 2010…
    O blog do projeto Top 250 IMDB Nerd Project está inaugurado! E o Cine Reporter já está nos favoritos… Grande abraço;

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  8. O heroi atual é o que une técnica, inteligência, conhecimento científico, respeita Diretios (sem ser necessariamente certinho), conhece o mundo moderno e as tecnologias, reflete sobre seus atos, não é dicotômico, luta, apanha, sofre é mais “ser humano”, em suma é um héroi complexo, de várias camadas.
    Pra mim muito inspirado também nas mudanças trazidas por HQs como Watchmen e outras que redefiniram o conceito de herói pra complexidade do mundo moderno e terminou por influenciar várias mídias….

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  9. Ah, você tem razão. As adaptações de HQ fizeram um bem tremendo pro cinema. Digo mais:o HQ marca a chegada da intelectualidade ao cinema!

    HQ = coisa de burrico. Não conheço uma pessoa inteligente(mas é inteligente mesmo) que aprecie essas porcarias.

    Pra quem ama o cinema, o verdadeiro cinema(hawks, buñuel, eisenstein, flaherty, renoir, hitchock, antonioni, bresson…), ter que aceitar essa praga no cinema, mesmo que seja comercial, é uma tristeza…
    É um pensamento moralista, eu sei, mas todo mundo que ama(não digo que entendo) alguma coisa é meio moralista quanto a ela, não?

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  10. Adorno (?) e Robson, debatam à vontade, mas sem agressões, por favor. Só digo de antemão que será uma discussão inútil, uma vez que ambos certamente defenderão suas posições com unhas e dentes, e certamente não as mudarão, não importa a argumentação do oponente. Eu só acrescentaria que considero toda e qualquer posição dogmática um sinal de imaturidade e arrogância. Abraços.

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  11. Bom, quando eu comento ponho o meu nome e blog de verdade aqui, porque tenho coragem suficiente de segurar as minhas opiniões. É fácil me encontrar e até descobrir o meu telefone, já que está disponível no site da minha banda.
    Já gente que comenta usando pseudonimos idiotas e se diz inteligente, deveriam dizer coisas inteligentes também, não simplesmente criarem polêmicas sem fundamentos argumentativos. Mas é aquela coisa, a internet é terra sem lei, então é fácil criar uma regra e sair espalhando por aí…
    Sendo assim, acho que o “objeto de enfeite” aí só quer causar mesmo, com sua lista de cineastas decoradas e provavelmente, nunca vistos.
    Só pra ilustrar então, vários dos nomes citados tem obras adaptando ou apaixonadamente abraçando as pulp fictions da década de 20 e 30, gênero considerado marginal de literatura, até mais do que as HQs são hoje pros “elitistas covardes da web”. Culpar uma fonte cultural pelo uso que ela comercialmente encontra em um meio, é como culpar o Stradivarius por aquele vizinho que está torturando o condominio enquanto aprende a tocar seu violino novo. Babaquice.
    Grande abraço;

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  12. Caro Aparecido Neto, se o senhor não conhece Bresson, Renoir, Hawks, Hitchcock, o que posso fazer? Imagino que qualquer um já viu filmes deles. Não sei da onde que são ‘nunca vistos’. E outra coisa: não é bonito aceitar esses adaptações de HQ feitas com a estética da tesourinha, se é que me entende; muito pelo contrário, é feio ser burro!
    O dia que um diretor dessas porcarias souber mover a câmera como um Antonioni(e, partir daí, extrair algum significado que passe da obviedade, claro), ou o dia que explorar o quadro com a simplicidade e complexidade de um Hawks, posso até pensar nas obviedades que disse – pior que o senhor pensa que descobriu o fogo, vomitando essas obviedades.
    E, mais uma coisa, não queira comparar os autores da literatura dita pulp da década passada com essas porcarias infantilizadas direcionadas a pessoas com um (pequeno?) atraso intelectual.
    É aquela coisa: tem processador que roda certos programas pesados, outros não tocam nem música e já travam. Felizmente, fui agraciado com um bom processador, se é que me entende, e tenho uma tremenda preguiça de discutir com quem não foi, como o senhor.

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  13. Hahahahaaha
    Nunca vistos – por tí, pela forma como te portas.
    Quer falar de argumento? E existe um pior do que “se tu não conhece…” da vida? Cadê o argumento aqui? No que o fato de “ver” algo faz com que o argumento se valide?
    Eu conheço sim a carreira dos citados, e exatamente por conhecer que não vou ficar emitindo sentenças dogmáticas, pois isso vai contra a magnitude que é o cinema. Filmes tem objetivos e, dentro desse prisma, essas comparações são no mínimo, idiotas. Agora julgar uma categoria de arte como menor, sem conhecimento de causa, só mostra o clock do teu processador 386… Se és tão unidimensional, tá na hora de fazer um upgrade pra algo mais multitarefa. Podes aí descobrir que existem coisas muito legais no mundo.
    Ou constatar a tua mediocridade babaca talibã. Tu falando de HQs parece aqueles barbudos muçulmanos culpando o ocidente por não “cobrirem as suas mulheres”, hahahahahaha
    Bom cara, já te dei muito comercial, que é o que exatamente tu precisa pra ser feliz, atenção. E me faz o favor de nem aparecer no meu blog, lá não tem espaço para figuras como tu.
    Grande abraço, “enfeite”;

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  14. Rodrigo, pode deixar que nem vou perder meu tempo discutidno com quem não entende nada de um assunto. Até porque se ele tivesse realmente um bom conhecimento da Nouvelle Vague por exemplo ele saberia como muitos dos diretores eram amantes de quadrinhos. Saberia que HQs e cinema andas juntas há um bom tempo e que ambas as linguagens são produtos culturais de finais do século XIX e início do XX. Que são produtos (do mais “artístico” ao mais “povão”) de uma indústria cultural e, como diz Edgar Morin, são contráditórios por si. Por eles nacerem numa cultura de massa fundada num capitalismo crescente até o filme mais “arte” possível (seja lá o que for isso) necessita de verba acredito eu. Sinto pena de uma pessoa que nunca leu Moore, Gaiman, Eisner, Pratt, Quino, Manara, Prado, Moebius, McCay, Raymond, etc., etc. que não sabe como a Europa (e a França principalmente) dá valor ao cinema e aos quadrinhos, que a USP e diversas universidades européias possuem um centro de pesquisa em quadrinhos, Não sabe que a primeira exposição de HQs do mundo foi em São Paulo em 1951 feita por amantes de cinema frânces e HQs. Dá pena um indivíduo que pensa entender de arte mas tem uma mente fechada, não compreende a própria indústria cultural onde o cinema surgiu e está inserido e muito menos outras linguagens. É gente como ele que , suponho eu, queira um povo mais culto e bem informado não tenho idéia de como fazer isso, pelo contrário, quer fechar o “mundo artístico” pros “escolhidos”. E pior, escreve aqui só pra causar uma polêmica que já conseguiu. E mistura adaptações e adaptações, linguagens e linguagens. E ainda usa um argumento extremamente vazio, pois do ponto de vista dele eu poderia desvalorizar a linguagem do cinema visto que já produziu mauita coisa fraca. Foi mal Rodrigo por comentar tanto algo que nem mereci comentários pois parte de alguém que não possui conhecimento sobre o que fala, quando se informa melhor sobre quadrinhos e cinema a gente discute. O assunto morre aqui. Abraço.

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  15. Caro Robson, o senhor tem um tremendo complexo de vira-lata. Precisa de opiniões de fora, de pessoas que amam o cinema dito culto(que ironia!) pra legitimar seu argumento. Uma forma simples de questionar tudo o que disse: quero ver um filme adaptado dos quadrinhos que seja mais interessante que um de Bresson e Antonioni, tanto do ponto de vista sintático quanto semântico. Quero conhecê-lo, de verdade.
    Quanto ao quadrinho, tem toda razão. Felizmente, não gasto meu tempo e dinheiro com esse tipo de porcaria. Pense bem, se gasto aqui, perco ali. Prefiro não correr riscos.
    Felizmente, tenho um bom intelecto, e, enquanto você lê essas histórinhas bobas, leio Schiller e vejo Visconti.

    Passar bem.

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  16. Sr Aparecido Neto

    Não vou postar nada no seu blog. Primeiro, porque ler algo escrito pelo senhor é igual estudar entrevista de jogador de futebol e, segundo, porque pessoas como o senhor me causam uma preguiça…

    Passar bem.

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  17. Uau! Se ser intelectual significa ser tão miserável quanto o Adorno (Seria ele um novo super-vilão?), então graças a Deus que sou burro! E um viva às HQ’s! VIVA!

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    Depois, quando falo que fã de HQ tem um atraso mental, o fãs ficam irritados… “super-vilão, viva!”, um mar de bordões de quinta categoria e maniqueísmo vagabundo que, provavelmente, aprendeu lendo essas porcarias.

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  19. Estou chegando tarde na conversa, mas queria marcar presença. Não conheço quase nada de quadrinhos e não gosto das adaptações que foram feitas deles para o cinema. Mas não acho que isso signifique que “quem lê quadrinho é burro” (só porque não tem o mesmo gosto que eu…). Aliás, mesmo para um cara que não gosta de quadrinhos como eu, assistir “Sin City” e “V de Vingança” foi uma experiência muito legal. E mais: ler Will Eisner me fez ver que o quadrinho pode, surpreendentemente (para mim, pelo menos), ser profundo e comovente. E – reitero – eu não gosto nem de quadrinho, nem de suas adaptações para o cinema.

    Acho que o Adorno adotou o pseudônimo porque concorda com o Adorno de verdade num ponto: a arte industrial se deixa enfraquecer pela lógica social que a produz. É um raciocínio profundo e que dá margem para se criticar os quadrinhos à vontade. Mas se há uma arte mais industrial que os quadrinhos, é o cinema. E a crítica de Adorno (o da Escola de Frankfurt) não seleciona o diretor para qual vale: de Bresson a James Cameron, todos cabem no balaio da “indústria cultural”. Veja-se, por exemplo, como a arte de Hitchcock foi assimilada pela indústria e tornou-se uma espécie de “standard” do cinema nos anos posteriores.

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