Sherlock Holmes

[rating: 3]

O nome lendário do detetive Sherlock Holmes traz à mente a imagem inconfundível de um aristocrático senhor inglês que, sempre vestido com boné de tweed quadriculado e cachimbo, soluciona enigmas complicadíssimos usando apenas a força do intelecto e um talento inigualável para a dedução lógica. Como quase todos os grandes personagens literários de grande fama, Holmes tem sido ocasionalmente transportado para a dimensão cinematográfica. Esta é a vez de Guy Ritchie: “Sherlock Holmes” (Reino Unido, 2010) transporta o internacionalmente conhecido detetive para o século XXI, num filme meio sem senso de ridículo, mas até que divertido.

Claro, não é a primeira vez que o personagem chega às telas. Ao longo do século XX, sempre acompanhado do parceiro e ajudante Dr. Watson, Holmes teve várias encarnações cinematográficas, cada uma exalando o cheiro de sua própria época. A mais conhecida das traduções do detetive para o meio audiovisual ocorreu numa série de filmes dos anos 1940, com o ator Basil Rathbone no papel principal. Foram esses filmes que popularizaram a imagem de Sherlock Holmes como um gênio policial que circula na alta sociedade inglesa e adora chá com biscoitos. A versão de Guy Ritchie agrega ao personagem o deboche e o pendor pela ação física característicos dos filmes do século XXI. Aqui, Sherlock Holmes (Robert Downey Jr) luta boxe e caratê, circula com desenvoltura no submundo das docas londrinas e mantém uma relação sutilmente homoerótica com o igualmente inteligente e ágil Watson (Jude Law).

Guy Ritchie, que após uma estréia promissora em 1998 (“Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes”) andou derrapando na repetição (“Snatch”) e numa vida pessoal atribulada, já ensaiava um retorno à boa forma no energético e irregular “Rock’n’Rolla” (2008). “Sherlock Holmes” confirma a chama criativa acesa novamente. O filme é uma bobagem interessante, ambientada na Londres suja e esfumaçada do século XIX, mas filmada como uma aventura cômica do século XXI: diálogos mordazes cheios de duplo sentido e sugestões sexuais, trabalho de câmera hiper-ativo mas clássico (nada na linha pseudo-documental de Paul Greengrass) montagem que recorre freqüentemente à câmera lenta para expor as deduções do detetive.

A trama não importa muito. É estruturada, na verdade, como um videogame em estágios, que consistem numa série de esquetes em que Holmes precisa lutar contra o relógio e resolver enigmas (quase sempre tendo que empregar suas habilidades físicas no processo) para avançar no jogo. Há um vilão tipicamente londrino, Lorde Blackwood (Mark Strong), membro do parlamento que usa a magia negra para tentar dominar o mundo. Apesar das insinuações de uma paixão não-resolvida de Holmes por Watson – e não correspondida – cada um dos dois parceiros tem um interesse romântico; a de Holmes é uma ladra de alta classe (Rachel McAdams) que participa ativamente da história, a de Watson (Kelly Reilly) tem apenas uma cena importante (e ótima) mas é subaproveitada.

Se o enredo é um ponto fraco do trabalho, as boas atuações do elenco valorizam o filme. Downey Jr repete o desempenho vigoroso e carismático que o transformou em astro após “Homem de Ferro” (2009), dando um toque irreverente ao outrora sisudo detetive (seus cabelos arrepiados e as tiradas de humor negro trazem sua caracterização para o presente, o que é obviamente o objetivo do filme). Jude Law foge do desinteresse que tem marcado trabalhos recentes, põe energia na atuação, e o resto do elenco acompanha o ritmo de ambos. A fotografia escura e a direção de arte, nitidamente mais caprichada nas cenas que se passam dentro do submundo londrino do que nos ambientes mais aristocráticos, são outros pontos fortes.

No entanto, é bom que fique claro: “Sherlock Holmes” oferece uma leitura atualizada e até certo ponto desnecessária de um personagem literário extremamente popular. Os fãs da literatura de Sir Arthur Conan Doyle provavelmente não vão gostar do filme de Guy Ritchie; assim como James Bond (após a aparição da franquia Bourne), o detetive inglês foi submetido a uma releitura livre que se afasta bastante do material original oriundo dos livros. Não que isso seja exatamente uma novidade – nos anos 1970, Billy Wilder comandou uma aventura de Sherlock Holmes que o mostrava como um preguiçoso gênio dedutivo viciado em drogas. Mesmo assim, é bom que todos estejam avisados.

O DVD nacional sai com o selo da Warner. O filme aparece em boa qualidade de vídeo (widescreen anamórfico) e áudio (Dolby Digital 5.1). O extra mais valioso é um making of (14 minutos).

– Sherlock Holmes (Reino Unido, 2010)
Direção: Guy Ritchie
Elenco: Robert Downey Jr, Jude Law, Mark Strong, Rachel McAdams
Duração: 128 minutos

19 comentários em “Sherlock Holmes

  1. Sou fã de Sherlock e não acho que eu vá gostar muito do filme. Vale lembrar que Holmes já lutava boxe na literatura (e usava cocaína).
    Talvez eu assita, vamos ver…..
    Mas tá me parecendo com o que fizeram com Constantine: pegaram um dos mais interessantes e carísmáticos personagen das HQs em todos os tempos e fizeram um lixo de filme mudando totalmente a personalidade do personagem…Esse Sherlock parece caminhar por aí, ou seja, só vai gosta quem nunca leu os livros (assom como o Constantine – não conheço um fã das HQs que tenha gostado daquilo).
    Sobre o James não concordo, não acho que os filmes novos mudaram o personagem…a essência dele tá fortemente presente…realmente só vejo vejo mais realismo nos filmes novos e tirando um bond um pouquinho mais violento nada mais que sim..e estou ansioso pelo próximo…

    Curtir

  2. Estou esperando pra ver Sherlock Holmes mas sabendo q vou achar provavelmente o q Rodrigo disse na critica… entao vai ser dificil se decepcionar 🙂

    Gosto d Constantine… o HQ eh extremamente dificil de adaptar… nao acho q mudaram toda a personalidade do personagem…ainda da pra ver um pouco de constantine ali (tenho amigos q nao gostaram simplismente pq o constantine do HQ eh louro e Keanu Reeves nao eh… isso eh ridiculo)… e um detalhe sobre isso eh q no proprio HQ a personalidade dele eh desenvolvida durante toda a HQ… tem volumes q vc nao ve Constantine muito diferente do q em outros e querer q UM filme mostra um cara q foi desenvolvida em mais de 60 volumes acho q eh querer demais.. gostaria de ver pelo menos mais dois filmes pra ai sim poder ter uma critica melhor

    Curtir

  3. Ontem vi Sherlock Holmes e gostei. Mas tem q se alertar que o filme é divertido e apenas isso. Tem uma direção com o carimbo de Guy Ritchie, uma ótima atiuação de Downey Jr (pra variar…), um Jude Law muito a vontade e uma belíssima Kelly Reilly. Fica evidente que Holmes está muito “chapado” em algumas cenas. Muitos desconfiam de um certo homossexualismo também. Eu não entendi assim. Acho que Holmes é tão egocêntrico que ele não consegue dividir o amigo inseparável com ninguém. É uma abertura de franquia. Ok, o que foi proposto foi cumprido. Nada demais!

    Curtir

  4. É horrível ver como as cópias de filmes dublados estão invadindo os cinemas brasileiros. O multiplex Boa Vista virou algo certo quando o assunto é colocar filmes não-desenhos ou infantis com cópias dubladas. Sherlock Holmes é o mais novo exemplo. Eu mesmo não costumo pagar para ir co cinema ver uma cópia dublada. É a treva!

    Curtir

  5. A coisa mais inteligente que o cinemão de Hollywood fez na última década foi ter descoberto Robert Downey Jr. e Johnny Deep, até então atores malditos e restritos ao cinema cult e independente. Se esse filme fosse estrelado por Tom Cruise ou Kevin Costner, por exemplo, acho que seria um desastre. É impressionante como esses dois atuam com leveza e carisma em filmes com orçamentos milionários. Quanto ao filme (Jude Law também está ótimo), fiquei com uma dúvida: a voz do Dr. Moriaty é de Brad Pitt? É sabido que o ator é cotado para viver o arquiinimigo do detetive na sequência, e eu fiquei com essa impressão.

    Curtir

  6. Thiago…sobre o Constantine é pq mudaram a personalidade mesmo. O cara no filme é fechado, luta, dá porrada (???????) usa arma (????????), não ri nunca, parace que vive sofrendo e odeia a vida, etc. e etc…

    Nas HQs ele é sarcástico, bem humorado, vive no bar rindo com os amigos, não sabe brigar (só apanha se for no braço) e resolve tudo na maladragem com inteligência e ironia, etc….Não esse Constantine que vi no filme, não mesmo……

    Exemplo, o ator que faz o Magneto nos X-Men, é velho e corpo fraco pro papel mas Sir Ian representou tão bem a personalidade do personagem que ninguem quer ver outro magneto (eu queria o Rutger Hauer antes – escrevi certo?), ou seja, não é pelo Reeves ser moreno nem nada disso…..Eu queria o Jude Law como Constantine (já que o sting não faria mesmo) mas em Londres rsrsrrs

    Curtir

  7. Robson… Entendi o q estas dizendo… mas nao concorda q toda a personalidade dele eh desenvolvida ao longo de todo o HQ? Inclusive em alguns vc pode ver um pouco do Constantine do filme… mas concordo q poderia ser melhor e acho q dentro de possivel foi um bom filme (prefiro mil vezes a Homem Aranha e X-men por exemplo, mas ai ja eh questao de gosto)… ainda acho q tendo mais uns dois filmes poderemos ver um Constantine ainda melhor (depende dos roteiristas tb ne?)

    Curtir

  8. Em relaçao ao Sherlock…
    achei muito bom para o q ele se propoe… na verdade ate me surpreendeu… esperava coisa pior… o estilo do Guy Ritchie se encaixou bem com o estilo do filme…
    Agora q a franquia foi apresentada eh ate possivel haver uma ousadia melhor no roteiro (pelo menos espero) dando mais destaque à parte da investigaçao…

    Curtir

  9. A única adaptação de Sherlock a que assisti foi “O Enigma da Pirâmide”, há muitos anos. Dos livros, li quase todos, também há bastante tempo.

    O filme paga o ingresso e nada mais. Fora os nomes dos personagens, nenhuma ligação séria existe com a obra de Conan Doyle. O Sherlock de Guy Ritchie é uma (fraca) mistura de Jackie Chan com o Ben Gates de Nicolas Cage. Sem falar que, a exemplo do que já aconteceu com Batman e Robin, este filme contribuirá para insinuações maldosas sobre a parceria Sherlock/ Watson, algo igualmente sem qualquer fundamento literário.

    Para mim, duas estrelas.

    Curtir

  10. sinceramente me surpreendeu, não esperava tanto de G. Ritchie nesse gênero, e Downey Jr alavanca todo o elenco, esta numa fase incrível! valeu a pena.
    Pra mim 7, mas como não tem, então 4 estrelas, meia de brinde pela ousadia.

    Curtir

  11. Assisti a este filme somente ontem e esperava ver uma visão mais moderna do personagem, até porque isso é bem condizente com o Guy Ritchie. O filme tem o ritmo ágil e rápido das obras anteriores do inglês, com a diferença de que este é um longa mais ambicioso, com uma excelente técnica e que se sobressai mesmo pela ótima parceria estabelecida entre Robert Downey Jr. e Jude Law.

    Curtir

  12. Gente, só eu vi a relação entre a personalidade do Sherlock Holmes e o Dr. House? Deram ctrl+c/ctrl+v na personalidade do House e injetaram no Sherlock.

    O filme vale pela diversão, tem tiradinhas engraçadas, muita ação, mas para mim perdeu pontos no quesito investigação (que acredito seja o que realmente queremos ver quando pensamos em Sherlock Holmes) e no quesito originalidade.

    Curtir

  13. Tem uma cena no filme, que pode ter sido uma cutucada intencional, ou não, de Ritchie em Madonna. Quando o inspetor se apresenta para cumprir o mandato de prisão contra Holmes, ele balança as algemas para Holmes e fala ” here is the next best thing”. The next best Thing é um filme com Madonna +ou- da época em que eles se conheceram, assim esta frase vem no momento de apuros para o herói, será que que Guy deu um jeito de colocar na tela que seu casamento foi uma roubada? heheh

    Curtir

  14. Rodrigo, gostaria de saber se você aceita pedidos de critica, nem sei se essa seria a forma correta de faze-lo, mas se possivel gostaria que publicasse criticas de 2 filmes(que gosto muito), que por sinal são do mesmo diretor Oliver Stone, que são PLATOON E NASCIDO EM 4 DE JULHO. Gostaria muito pois não encontrei em nenhum lugar criticas de pessoas especializadas sobre estes filmes. Como quase sempre concordo de maneira integral com suas criticas, gostaria muito, que fizesse este favor, agradeceria muito…

    Curtir

  15. Junior, infelizmente tenho tido pouco tempo para dedicar ao site, já que ele não é um trabalho em tempo integral e muito menos remunerado. Há pilhas de filmes que eu assisti e pretendo escrever sobre. Eventualmente poderei escrever sobre ambos, mas no momento não tenho como fazer isso.

    Curtir

  16. Finalmente vi ontem em DVD (não pude ir no cinema na época). Me surpeendi. Muito melhor do que pensei e nem achei que mudou tanto assim o personagem. Usa vários personagens da literatura como o inspetor Lestrade e a Irene Adler do grande conto Escândalo na Boêmia. Ele luta boxe na literatura também, o visual com chapéu, sobretudo e cachinbo quem definiu foram os filmes, na literatura isso não é citado (só sua altura coisa o Downey é baixinho). Então, há sim exagero em muitas cenas (feitas pro público de massa) mas na essência não mudou muito não pois tirando o exagero ele faz tudo o que tem no filme na literatura. E nunca cita nos contos e romances que o Watson era gordinho também pelo o que eu me lembre. Não achei nada homoerótico no filme, só amizade possessiva mesmo. E alguém reparou na primeiro cena que o Sherlock tá no quarto umas carreiras de um pó branco numa mesinha ou foi só eu? (lembrem-se que na literatura ele era usuáriode cocaína). Poderia ser melhor? Muito. E mais sério também, mas nota 8, pensei que ia odiar mas adorei. E não sei porquê mas fiquei achando que esse era quase o filme que o novo Indiana Jones deveria ter sido e não foi.

    Curtir

Deixe um comentário