Princesa e o Sapo, A

[rating: 3.5]

Uma das primeiras decisões tomadas por John Lasseter quando o chefe criativo da Pixar assumiu o controle do departamento de animação da Disney foi polêmica: reativar o antigo setor de desenhos animados feitos a mão, fechado pela antiga administração em 2004. Parecia um retorno nostálgico a um passado impossível de voltar, mas Lasseter estava convencido de que bons filmes podiam ser feitos usando-se qualquer tecnologia. Desta forma, ele reempregou a dupla de diretores responsável por grandes sucessos da companhia nos anos 1990 – Ron Clements e John Musker dirigiram “Hércules”, “Aladdin” e “A Pequena Sereia” – e encomendou um filme que resgataria as tradições narrativas da Disney. “A Princesa e o Sapo” (The Princess and the Frog, EUA, 2009) é este filme.

Na verdade, o que John Lasseter queria não era um mero retorno nostálgico às origens. Ele pretendia trazer de volta as marcas registradas que haviam marcado a história da Disney, mas dando-lhe uma nova roupagem, mais irreverente. Nesse ponto, “A Princesa e o Sapo” alcança bem o objetivo pretendido pelo gênio do CGI. Pode-se argumentar que o longa-metragem não está à altura dos clássicos Disney (maravilhas como “Pinóquio”, “Branca de Neve e os Sete Anões” ou “A Bela Adormecida”), mas tampouco cai na vala comum em que os títulos da empresa chafurdaram durante os anos 1970 (obras fracas e sem inspiração, como “A Espada Era a Lei”).

Sendo a Disney, era óbvio que a irreverência pretendida por Lasseter não podia chegar ao nível da iconoclastia. O que Clements e Musker fizeram, na verdade, foi unir dois elementos pertencentes à tradição da companhia – a princesa em busca de um amor como protagonista e os números musicais – e revirá-los pelo avesso, mas conservando ainda a tradicional mensagem familiar e sem transbordar de cinismo e picardia, como a Dreamworks fizera com “Shrek”. Assim, temos no filme de 2009 a primeira princesa negra da história da Disney (não custa lembrar que uma princesa índia já consta do catálogo da empresa desde “Pocahontas”, de 1995) e números musicais que abandonam os pomposos arranjos orquestrais para mergulhar de cabeça nos vibrantes improvisos do jazz.

É precisamente por motivos musicais que a trama está ambientada na New Orleans dos anos 1920. Naquela época, em que o French Quarter fervilhava de músicos notáveis, vive Tiana, jovem cozinheira cujo sonho é comprar um restaurante, algo que seus pais – ambos cozinheiros como ela – nunca conseguiram realizar. Tiana é transformada acidentalmente em sapo depois de beijar um batráquio falante durante uma festa de fantasias em que comparecera vestida de princesa. Ocorre que o sapo beijoqueiro é um príncipe verdadeiro, Naveen, transformado em sapo durante visita a New Orleans por um feiticeiro vodu, como parte de um plano maligno para que o bruxo passe a fazer parte da realeza internacional.

Assim, os dois pombinhos (ou melhor, sapinhos) têm que cruzar os pântanos da região, acompanhados de um crocodilo trompetista e de um vagalume sonhador, para encontrar uma velha cega que pode ser a chave para desfazer o feitiço. Claro que haverá empecilhos e muitas emoções durante a jornada, temperada com números musicais repletos energia e cores lisérgicas, na linha do famoso número do elefante cor-de-rosa presente em “Dumbo”. Como não poderia deixar de ser, o clímax acontece durante o famoso carnaval de rua da cidade, de forma que “A princesa e o Sapo” equilibra-se entre breves delírios surrealistas, seqüências mais sombrias (o vilão consegue ser realmente assustador para crianças pequenas) e a clássica história de amor impossível tantas vezes recontada com vivacidade nos desenhos Disney. Longe de ser uma obra-prima, o longa diverte e comprova a teoria de Lasseter: bons filmes independem da tecnologia usada para fazê-los.

O DVD brasileiro de “A Princesa e o Sapo” é simples, traz o filme com boa qualidade de imagem (widescreen anamórfica) e áudio (Dolby Digital 5.1), contém cenas cortadas, comentário em áudio com os diretores e um making of.

– A Princesa e o Sapo (The Princess and the Frog, EUA, 2009)
Direção: John Musker e Ron Clements
Animação
Duração: 97 minutos

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