Oscar 2010: resultados

Para muita gente foi uma surpresa. O drama “Guerra ao Terror”, de Kathryn Bigelow, levou seis estatuetas (das nove a que concorria) e transformou-se no grande vencedor da 82ª edição do Oscar. Bigelow se tornou a primeira mulher a vencer a categoria de melhor diretor na história da premiação. O filme dela também venceu as categorias de edição, roteiro original, edição de som e mixagem de som.

A cerimônia de premiação aconteceu na noite do domingo (7), no Teatro Kodak, em Hollywood, e durou três horas e meia.

O outro grande protagonista da noite, “Avatar” (James Cameron), também concorria a nove estatuetas e ficou com apenas três prêmios técnicos: direção de arte, fotografia e efeitos visuais. Resta a Cameron o consolo de que a visibilidade alcançada reforçou ainda mais a já maior bilheteria da história do cinema.

Para quem acompanhava a trajetória dos dois filmes, a vitória de “Guerra ao Terror” nas categorias principais não chegou a surpreender. No entanto, o número de troféus (o dobro do maior concorrente) e algumas estatuetas técnicas foram surpresa, sim. Falo sobretudo das duas categorias relacionadas ao som.

Vou explicar isso melhor. Por ter sido filmado inteiramente em locação e com equipamento semi-profissional (câmeras Super 16), o longa-metragem certamente precisou ter a trilha de áudio recriada, em grande parte, na pós-produção. Ora, é fato que esse trabalho foi extremamente bem feito, de forma que a construção cuidadosa dos efeitos sonoros e sua mixagem com os diálogos jamais atrapalham o efeito de naturalismo tão perseguido no tratamento das imagens (razão maior do Oscar de melhor edição, aliás).

Nessas categorias, portanto, acho que a vitória é muito merecida. Mais até do que em melhor filme e direção (como já escrevi antes, considero “Bastardos Inglórios” e “Up” trabalhos superiores). Mas, como toda regra tem exceção, preciso dizer que o prêmio de roteiro original para Marc Boal me pareceu um absurdo. Tudo bem que o filme nasceu do ótimo artigo que ele escreveu para a revista Playboy, mas em termos de estrutura dramática e na qualidade dos diálogos, trata-se de um roteiro comum. Banal, até.

A força do filme de Kathryn Bigelow está na sua energia, que provém das atuações, da fotografia, da montagem e do trabalho com o som. Não do roteiro. No meu entender, esse foi o maior absurdo da noite.

Os três Oscar faturados por “Avatar” eram mais ou menos óbvios e ficaram de bom tamanho. No todo, aliás, a distribuição de prêmios foi de acordo com as expectativas. Alguns troféus distribuídos eram bastante óbvios, como os de Jeff Bridges (melhor ator), Sandra Bullock (atriz), Mo’nique (atriz coadjuvante) e sobretudo Christoph Waltz (ator coadjuvante). Se esse último não ganhasse, seria o caso de pedir o impeachment da diretoria da Academia de Artes e Ciências de Hollywood.

Houve surpresas também. Poucas. O excelente (mas sombrio, inconclusivo e talvez agressivo demais) “A Fita Branca” perdeu para o melodrama argentino “O Segredo de Teus Olhos” (filme estrangeiro), numa decisão que certamente irritou cinéfilos mais empedernidos, mas que não chega a ser injusta. São filmes de calibres diferentes, feitos para públicos diferentes. Já Quentin Tarantino não ganhar melhor roteiro original foi mesmo um escândalo, considerando o que acabei de escrever sobre a estrutura dramática e os diálogos do grande vencedor da noite. Essas duas características abundavam no filme de Tarantino.

Consideremos, também, que belos filmes saíram premiados. Foi o caso de “Up”, que ganhou em melhor animação (era óbvio) e em trilha sonora (não tão óbvio). Esta última estatueta foi mais do que justa. Somente a montagem dos primeiros dez minutos do filme, sonorizada com um arranjo absolutamente espetacular e comovente de Michael Giacchino, seriam suficientes para lhe dar o Oscar.

Veja abaixo a lista completa dos vencedores:

» Melhor filme: “Guerra ao terror”
» Melhor direção: Kathryn Bigelow, “Guerra ao terror”
» Melhor atriz: Sandra Bullock, “Um sonho possível”
» Melhor ator: Jeff Bridges, “Coração louco”
» Melhor filme estrangeiro: “O segredo dos seus olhos” (Argentina)
» Melhor edição (montagem): “Guerra ao terror”
» Melhor documentário: “The cove”
» Melhores efeitos visuais: “Avatar”
» Melhor trilha sonora: “Up – Altas aventuras”
» Melhor cinematografia (fotografia): “Avatar”
» Melhor mixagem de som: “Guerra ao terror”
» Melhor edição de som: “Guerra ao terror”
» Melhor figurino: “The young Victoria”
» Melhor direção de arte: “Avatar”
» Melhor atriz coadjuvante: Mo’Nique, “Preciosa”
» Melhor roteiro adaptado: “Preciosa”
» Melhor maquiagem: “Star trek”
» Melhor curta-metragem: “The new tenants”
» Melhor documentário em curta-metragem “Music by Prudence”
» Melhor curta-metragem de animação: “Logorama”
» Melhor roteiro original: “Guerra ao terror”
» Melhor canção: “The weary kind”, de “Coração louco”
» Melhor animação: “Up – Altas aventuras”
» Melhor ator coadjuvante: Christoph Waltz, “Bastardos inglórios”.

17 comentários em “Oscar 2010: resultados

  1. Bastardos Inglórios não ganhar como o melhor roteiro original foi uma verdadeira piada. Avatar merecia apenas os prêmios técnicos, mesmo. A melhor atriz, a meu ver, deveria ter sido a gordinha do filme Preciosa. Guerra ao Terror é muito bom, só não concordo como sendo o melhor filme. Bastardos Inglórios foi disparado o melhor filme de 2009.

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  2. Concordo que o roteiro original poderia ter sido entregue a “Bastardos Inglórius”. Mas não acho que foi nenhuma injustiça, absurdo ou anomalia “Guerra ao Terror” ter ganho. Como já escrevi neste democrático espaço, o filme de Bigelow é o melhor do ano. Um grande filme! E ganhou com a maior justiça do mundo. Avatar fica com o prêmio que tinha que ficar mesmo. O de maior bilheteria. Fico feliz e curioso ao mesmo tempo. Feliz que a Academia opte por uma boa história e não por bons efeitos. Curioso porque ela fecha os olhos para o que pode ser a salvação da indústria num futuro bem próximo
    Adorei os resultados!!

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  3. Concordo com o Danilo, quando ele diz: “Feliz que a Academia opte por uma boa história e não por bons efeitos”. É isso mesmo, velho. Assino embaixo. E o teu Santos, hein? O Sport Club do Recife é minha religião, mas não perco um jogo do Santos ultimamente. Time leve, técnico, habilidoso, coisa rara no futebol brasileiro (quem diria!) hoje em dia. Se esse time mantiver o bom nível técnico e regularidade, dificilmente deixa de conquistar algo este ano. Meu avô era de Santos e santista doente, ele estaria feliz da vida vendo este time jogar. Um abraço.

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  4. Na minha humilde opinião os maiores injustiçados da noite foram “Avatar” e “Bastardos e inglórios”. Guerra ao terror é bom, mas não tanto a ponto de ganhar tantos premios e ponto final.

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  5. Vocês viram a esposa do James Cameron, a atriz Suzy Amis, coitada, o que esse cara faz com as mulheres com que casa (a exceção da Kathryn Bigelow, claro), elas murcham ao lado dele (foi o mesmo com a Linda Hamilton.

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  6. Gostaria de saber quais criterios os jurados da academia usam quando escolhem um filme?
    Até que ponto o subjetivo interfere nessa escolha?
    Gostaria tambem de compartilhar a minha indignação. Ontem eu estava distante do recife, num lugar onde uma TV era a unica possibilidade que eu tinha de ver a entrega dos premios. Mas para o meu desespero a rede globo apenas iniciou a transmição de fato, praticamente na metade da festa; a entrega de alguns premios que eu ansiava ver (ao vivo) como melhor animação e melhor ator coadjuvante, foram sacrificados em nome do alienante BBB. Uma postura que revela a falta de compromisso da emissora para com o telespectador. Sem falar na pessima apresentação, com os comentarios vazios do excelente ator José Wilker.

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  7. Achei a cerimonia agradavel e nem vi o tempo passar.. gostei dos apresentadores e fiquei muito contente com a derrota de Avatar. Pra mim, qualquer filme que vencesse Avatar seria mais do que justo. O melhor momento foi Ben Stiler de Na’vi e a melhor piada foi a do oculos 3D pra ver James Cameron. O premio mais justo foi para Christoph Waltz, eu considero seu desepenho em Bastardos Inglorios simplesmente a melhor atuação do ano passado.

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  8. Andrei, como toda votação, claro que o subjetivo interfere. Não há critérios claros, mas convém lembrar: os jurados são gente do ramo (diretores, fotógrafos, atores, etc.) que já foram indicados e/ou ganharam nos anos anteriores. Então eles sabem do que estão falando. Pelo menos em tese…

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  9. Também estou nessa de que “Bastardos” era para ter ganho roteiro original. Foi surpresa mesmo. Muito bom o texto Rodrigo. Legal as explicações de som e realmente o início de “Up” é sensacional.

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  10. Na minha opinião, “Guerra ao Terror” é um bom filme, mas longe de ser o melhor dos indicados (não sei nem se pegaria uma medalha de bronze). Mas acho que prevaleceu a vontade da Academia de premiar algum filme sobre a Guerra do Iraque. Na falta de um “Apocalypse Now” ou de um “Platoon”, ele serviu.

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  11. Destaque tb para a trilha sonora de Up. Absurdamente maravilhosa!!!

    só para o André não ficar sem resposta
    obrigado pelos elogios ao meu Santos. Nosso momento é mágico mesmo. Moro em frente a Vila e vou a todos os jogos!! O Sport ano que vem vai para o lugar que ele merece estar. A Divisão de elite!

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  12. Rodrigo, pode-se dizer que o futuro do cinema é em 3D.
    Em outras palavras, filmes em 3D estão para os em 2D como os em cores estão para os em preto e branco?

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  13. Eu gostei da distribuição de prêmios, mas odiei a cerimônia em si! A do ano passado foi dez mil vezes melhor! Amei a Kathryn vencendo e surpresas mesmo somente a vitória de “Precious” em Roteiro Adaptado e “Avatar” em Fotografia!

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