Família do Futuro, A

[rating:3]

Uma especulação curiosa seria imaginar o caos reinante nos corredores dos estúdios Disney durante a fase de produção de “A Família do Futuro” (Meet the Robinsons, EUA, 2007). Foram meses em que, sofrendo com a concorrência de firmas pequenas e mais adaptadas à tecnologia da animação computadorizada, a Disney estava decidindo fechar as portas da divisão de animação tradicional, feita com lápis e papel. Também negociava com a pequena e vitoriosa Pixar, responsável por elevar a qualidade média de produções infanto-juvenis a um patamar mais alto, um novo acordo de distribuição. Ao fim de meses de incertezas, a Pixar foi incorporada pela Disney e seu diretor, John Lasseter, virou chefe de todas as animações da casa. Todo esse ambiente de hesitação e incerteza acabou, compreensivelmente, vazando para dentro da animação de Stephen J. Anderson, tornando a trama meio confusa. Apesar disso, o resultado é positivo dentro do gênero.

O filme é uma adaptação de um popular romance infanto-juvenil nos Estados Unidos, e transporta a já tradicional mensagem moralista da empresa do Mickey – a família como elemento mais importante de nossas vidas – para uma trama de ficção científica que parece saída de um romance pulp. O resultado é uma curiosa aventura futurista, de trama mais acelerada do que o normal, que flerta com o humor anárquico e hiperativo dos desenhos de Chuck Jones (Pernalonga), casando-o com o toque familiar que é marca registrada da poderosa empresa de animação. Embora não atinja ainda o mesmo (e altíssimo) padrão de qualidade da já citada Pixar, “A Família do Futuro” deixa antever que a promoção de Lasseter para o posto de produtor executivo de todas as animações Disney deve mesmo, a médio prazo, elevar o nível médio dos exemplares do gênero produzidos na casa de animações mais tradicional dos Estados Unidos.

O ponto de partida de “A Família do Futuro” é promissor. Após ver um invento quebrar durante uma feira de ciências da escola, o garoto Lewis volta para casa traumatizado, decidido a deixar de lado a pretensão de se tornar inventor. No mesmo dia, contudo, dois novos fatos ameaçam esta decisão: a aparição de um homem sinistro que usa um chapéu-coco e rouba a invenção fracassada, e o surgimento de um garoto estranho que afirma se chamar Wilbur e vir do futuro. Ao que parece, ele está ali para garantir que Lewis não perca a determinação que lhe levará, alguns anos depois, a inventar a primeira máquina do tempo. Um ponto de partida, como se vê, claramente inspirado na franquia sci-fi “O Exterminador do Futuro”.

Infelizmente, a história em si não é muito consistente, pois se expande muito lateralmente, explorando personagens demais e passando tempo excessivo nos passeios intermináveis de Lewis pelo futuro, em uma jornada por um mundo excêntrico que lembra um pouco o clássico “Alice no País das Maravilhas”. Nas cenas de ação, mais aceleradas, é perceptível a influência das animações de Chuck Jones, enquanto no visual a referência básica está nos filmes de Tim Burton. Um elemento positivo aparece nas já tradicionais referências a filmes adultos. Ao invés de apostar na segurança e lembrar obras de grande sucesso popular, o diretor Stephen J. Anderson prefere criar referências a longas mais obscuros e desconhecidos, especialmente ficções científicas dos anos 1950, como as produções de Ed Wood. Neste caso, não se trata apenas de ousadia narrativa, mas também de apontar para as referências certas, já que “A Família do Futuro” é uma sci-fi infantilizada.

É importante ressaltar, ainda, que a participação de John Lasseter foi decisiva no resultado final. Ao contrário do que normalmente ocorre em animações computadorizadas, o sócio-diretor da Pixar (que assina como produtor executivo) assistiu a uma cópia não finalizada do trabalho e solicitou muitas alterações, obrigando o diretor a refazer cerca de 60% do filme. É possível que o ritmo levemente irregular e o caráter episódico de determinadas cenas tenha resultado desta interferência, mas de todo modo o resultado final, ainda que não tenha se tornado uma obra-prima, foi compensador.

O disco da Buena Vista é OK. Além do filme, com boa qualidade de imagem (widescreen anamórfica) e áudio (Dolby Digital 5.1), há dois featurettes, comentário em áudio, galeria de cenas cortadas, um videoclipe e jogos interativos.

– A Família do Futuro (Meet the Robinsons, EUA, 2007)
Direção: Stephen J. Anderson
Animação
Duração: 102 minutos

2 comentários em “Família do Futuro, A

  1. Olha eu amei muito mesmo esse filme e não é questão de cenas de ação ou a viagem dele no futuro ser longa de mais.O que importa é a mensagem que o filme nos mostra que é seguir em frente e não olhar de mais no seu passado pois afeta o seu futuro como o Lewis fez ele queria muito conhecer a mãe e não saiu do passado dele,mais ele conheceu o Wilbur que mostrou o futuro e mostrou que tem muito oque viver e descubrir.Eu amo muito esse filme ! Beijos

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