[rating:4]
Thriller policial recebido com frieza quando lançado nos cinemas, “Viver e Morrer em Los Angeles” (To Live and Die in L.A., EUA, 1985) se tornou um título muito cultuado por cinéfilos devido a três razões: 1) o final, surpreendente e chocante, que pega a platéia de guarda baixa e quebra uma das regras tácitas mais importantes do cinema narrativo; 2) o estilo documental, de realismo acentuado, utilizado pelo diretor William Friedkin; e 3) a natureza impulsiva e a ética duvidosa do protagonista, um investigador bem diferente do protótipo do bom mocinho de Hollywood. Graças a essas três características, o longa-metragem acabou reabilitado, pelo menos para uma parcela importante do público.
O projeto foi oferecido a Friedkin por ter muita semelhança com “Operação França”, filme anterior do cineasta que faturou os Oscar de filme e direção, em 1972. Na época, o diretor passava por um período difícil, sem conseguir levar em frente projetos autorais, e por isso topou o trabalho, decidindo utilizar a mesma abordagem que dera certo em “Operação França”. Ele mesmo reescreveu a história oriunda do romance de Gerald Petievich, com o auxílio do escritor, adicionando vibração e movimento extras ao jogo de rato e rato entre um investigador federal e um falsificador de dinheiro, na paisagem seca e deserta da Los Angeles dos anos 1980.
De fato, são óbvios os pontos de contato entre “Operação França” e “Viver e Morrer em Los Angeles”, a começar pela personalidade impulsiva, quase suicida, do herói. Richard (William Petersen), um policial alucinado como um viciado em cocaína, está investigando o dublê de falsificador e artista plástico Rick Masters (Willem Dafoe) quando perde o parceiro, supostamente assassinado pelo rival. Obcecado por vingança, ele quebra todas as regras da corporação para fazer o bandido pagar pelo crime. A jornada inclui chantagear uma prostituta (que é também amante e informante dele próprio) e roubar dinheiro para levar adiante o plano maluco, mesmo diante dos protestos do novo parceiro (John Pankow).
Quem viu “Operação França” não vai ter dificuldades em perceber que Richard, com sua personalidade intensa e amalucada, nada mais é do que uma extensão lógica do Popeye Doyle que deu o Oscar de melhor ator a Gene Hackman. Outras similaridades com o filmaço de 1971 incluem o estilo documental de filmar, com câmera tremida e imagens fora de foco, e a ênfase minuciosa nos detalhes, como comprova a ótima seqüência que mostra Rick imprimindo dinheiro falso – para alcançar resultado realista, Friedkin contratou um falsificador de verdade e imprimiu cédulas falsas, arriscando toda a equipe a ser presa de verdade.
Para acabar com qualquer dúvida restante, o cineasta ainda providencia outra daquelas perseguições automobilísticas alucinantes, que incluem tomadas com os atores dirigindo carros na contramão de uma auto-estrada lotada, e ainda uma manobra arriscadíssima defronte de um trem em movimento. A cena é espetacular e acaba por incluir o filme no rol dos longas-metragens com seqüências de perseguição mais impressionantes já realizados. Como em “Operação França”, William Friedkin também consegue surpreender o público – ao invés de apostar em ambigüidade, porém, aqui ele simplesmente toma uma decisão radical que deixa qualquer desavisado de boca aberta.
“Viver e Morrer em Los Angeles” só não é perfeito porque envelheceu. Ficou visualmente datado, exibindo uma cara inconfundível do pior dos anos 1980. O figurino dos atores (a calça jeans colada e de cintura alta usada por William Petersen), os penteados (a amante do policial), a trilha sonora (repleto daquelas músicas grudentas de propaganda de cigarros) e toda a tonalidade visual, com muitas luzes néon e cores primárias, deixam o resultado final com textura berrante. Se você souber passar por cima disto, no entanto, vai dar de cara com um thriller policial bem interessante.
O DVD é simples, mas caprichado. O filme aparece com boa qualidade de imagem (widescreen 1.85:1 anamórfica) e áudio (Dolby Digital 5.1). Os extras incluem documentário (30 minutos), dois featurettes que introduzem um final alternativo (9 minutos) e uma cena cortada (4 minutos), tudo com legendas. Há ainda comentário em áudio de William Friedkin.
– Viver e Morrer em Los Angeles (To Live and Die in L.A., EUA, 1985)
Direção: William Friedkin
Elenco: William Petersen, Willem Dafoe, John Pankow, Debra Feuer
Duração: 116 minutos
pra mim foi o penultimo grande policial a ser realizado.o ultimo foi fogo contra fogo de michael mann.concordo com tudo que voce disse,realmente o filme soa datado devido a estética anos 80,mas como estou na casa dos 30 me passa uma saldosidade,me tras lembranças boas.
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Rodrigo, a tag tá errada. E essa crítica é tão boa quanto o filme, que é demais. 🙂
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Corrigida a tag. Obrigado, Paulo.
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Engraçado, quando assisti este filme me lembrei de Operação França! Não sei dizer se envelheceu, mais é um dos melhores filmes policiais.
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Acabo de vê-lo no Telecine Cult. Já não se faz filmes policiais tão bons quanto este.
Rodrigo, só uma correção: o personagem Richard é interpretado pelo William Petersen, e não pelo próprio diretor William Friedkin (como dá a entender).
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Acabo de vê-lo no Telecine Cult. Já não se faz mais filmes policiais tão bons quanto este.
Rodrigo, só uma correção: o personagem Richard é interpretado pelo William Petersen, e não pelo próprio diretor William Friedkin (como dá a entender).
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Corrigido, Jurandy. Incrível que esse erro bobo tenha ficado quatro anos publicado sem que eu e ninguém mais notasse! 🙂
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Vi hoje. E quando penso que o Tarantino foi original em Pulp Fiction vejo que já fizeram o mesmo anteriormente. Falo do que acontece com um personagem no final.
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Esse final é famoso. No roteiro era diferente. Só no dia da filmagem Friedkin resolveu mudar, num impulso. E tem tudo a ver com a natureza do personagem em questão. Ficou muito bom (agora, o paralelo com Tarantino eu não sei não… até porque no filme dele isso acontece bem longe do final, tanto do filme quanto do enredo, cronologicamente falando).
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