Outro Lado da Cama, O

[rating:3.5]

O cinema espanhol tem gerado uma quantidade abundante de filmes interessantes e muito diferentes entre si. Há, por exemplo, uma fértil onda de filmes de suspense/horror baratos e criativos, que tornou o nome do cineasta Alejandro Amenábar internacionalmente conhecido. Isso, claro, para não falar de nomes consagrados, como Pedro Almodóvar e Julio Medem. “O Outro Lado da Cama” (El Otro Lado de la Cama, Espanha, 2002) chega para ilustrar mais uma faceta do cinema espanhol: a comédia musical.

O longa-metragem de Emilio Martínez-Lázaro fez enorme sucesso em território espanhol, ganhando assim espaço para a exportação. O filme investe numa temática pouco original (confusões amorosas protagonizadas por jovens de classe média), mas o faz de maneira pouco usual. O suposto realismo desse tipo de trama é suspenso, de tempos em tempos, para que seja apresentado um número musical bem aos moldes do melodrama hollywoodiano clássico.

Há uma única diferença, e ela é radical: as coreografias parecem ter sido criadas por crianças com menos de 14 anos (ou seja, são hilariantes). Em outras palavras, os atores derramam açúcar e ironia em canções de amor desavergonhadamente pop, enquanto dançam de forma desajeitada e canhestra. Só que esse detalhe, ao invés de comprometer a qualidade da película, ressalta os traços cômicos do roteiro. Funciona, portanto, duplamente bem, enfatizando o caráter de filme de baixo orçamento e ajudando a eliminar a seriedade com que alguns poderiam tratar a obra.

O enredo, na verdade, é mero pretexto para a abordagem alegre, leve e assumidamente superficial das relações amorosas da juventude contemporânea. Javier (Ernesto Alterio) e Sonia (Paz Veja) são um casal que mora junto há anos e começa a cair na rotina. Ocorre que Javier apaixona-se e inicia um romance com Paula (Natalia Verbeke), a namorada do melhor amigo dele, Pedro (Guillermo Toledo).

Durante todo o filme, esse quarteto vai protagonizar idas e vindas amorosas intercaladas com os números musicais impagáveis. Um desses números, por sinal, dá partida ao longa-metragem. As canções são sempre apresentadas como devaneios do quarteto principal. No decorrer da trama, vários outros personagens interessantes vão cruzando o caminho dos protagonistas, incluindo um amigo machista fã de Elvis Presley (Alberto San Juan) e uma garota que fala pelos cotovelos (Maria Esteve) e pode virar interesse amoroso de Pedro. Todos possuem algum traço cômico mais acentuado, ao contrário do que ocorre com os quatro protagonistas. A caracterização dos personagens, portanto, é um trunfo da película.

Por outro lado, “O Outro Lado da Cama” não se sustenta inteiramente como comédia e muito menos como musical, já que supostamente homenageia os dois gêneros mas jamais assume abertamente alguma filiação. O texto, a rigor, tem momentos engraçados, mas é irregular e traz também várias piadas sem graça – a maior delas é um personagem, detetive particular, que felizmente aparece poucas vezes e não tem maior importância na trama principal. Como o filme jamais se leva a sério, contudo, esses são defeitos facilmente perdoáveis. Só não entre no cinema esperando um filme ambicioso. “O Outro Lado da Cama” é diversão escapista, e nada além.

– O Outro Lado da Cama (El Otro Lado de la Cama, Espanha, 2002)
Direção: Emilio Martínez-Lázaro
Elenco: Ernesto Alterio, Paz Veja, Guillermo Toledo, Natalia Verbeke, Alberto San Juan
Duração: 114 minutos

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